Mais de 26 Mil Licenciados Desempregados
Por ISABEL LEIRIA
PUBLICO, Lisboa, Quarta-feira, 24 de Outubro de 2001

Fim do trabalho não permanente é a principal razão da inscrição nos centros de emprego

É o número mais elevado dos últimos anos: no mês passado, 26.706 licenciados estavam inscritos nalgum centro de emprego. Já se sabe que Agosto, Setembro e Outubro são sempre meses difíceis para os milhares de jovens que todos os anos concluem por esta altura os seus cursos superiores. Só que os valores não param de agravar-se em relação a idêntico período dos anos anteriores. Comparando com Setembro de 2000, o aumento do número de desempregados com nível de instrução superior cifrou-se em 18,3 por cento (mais 4140 inscritos à procura de emprego), segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).

O "movimento extraordinário de desempregados com cursos superiores", típico desta época do ano, sublinha o IEFP, é pois o principal responsável pelo crescimento deste indicador: entre Agosto e Setembro, dos 7470 novos pedidos de emprego (mais 33,6 por cento), 6717 correspondiam a bacharéis e licenciados. A esmagadora maioria era constituída por candidatos à docência.

No conjunto dos grupos profissionais "docentes do ensino secundário, superior e profissionais similares" e "profissionais de nível intermédio de ensino - docentes do ensino básico, educadores de infância e docentes de educação especial -" registaram-se mais 4737 pedidos do que no mês homólogo de 2000 e mais 6807 do que no mês anterior.

Ainda de acordo com os dados do IEFP relativos a Setembro, a conclusão dos estudos foi o segundo motivo de inscrição num centro de emprego, justificação apresentada por 15 por cento do desemprego registado. Mas o fim do trabalho não permanente continua, de -longe, a ser a principal razão invocada pelos inscritos nos centros de emprego.

Comentário de um visitante do PORTAL DA HISTÓRIA:

O que se conclui deste tipo de jornalismo? Abandona-se o ensino superior? Fecham-se as licenciaturas que não prometem emprego imediato, mas que podem preparar o caminho para uma reflexão criativa e modificadora da situação de impasse em que o país se encontra devido em grande parte ao descuido e negligência do sector de educação superior até agora ? Se fizéssemos isso, continuaríamos a manter o “feudalismo” que ainda rege o nosso país e a nossa cultura. Mudaram-se após o 25 de Abril algumas caras feudais [mas permanecem muitas] e, ironicamente, os novos políticos de pós-25 de Abril querem agora sustentar as mesmas políticas da educação como dantes, tentando excluir possíveis rivais ao seu poder. Mais educação superior e mais descontentamento dos licenciados desempregados é a única via para levar à rua os políticos interesseiros o mais cedo possível.