O director do Centro Nacional de Arte Rupestre sugere esvaziamento da barragem de Fratel, sítio que complementa o Côa.

Francisco Mangas

Lisboa, Diário de Notícias, 10 Janeiro 2000



Ainda estudante, António Martinho Baptista integrou o grupo que fez o levantamento arqueológico da abundante arte pré-histórica do Tejo. São milhares de gravuras que, ao contrário da maioria das do Côa, ficaram submersas na pequena barragem do Fratel. Foi há vinte e cinco anos, e esse legado - fundamental para se compreender na plenitude o ciclo de arte rupestre em Portugal - caiu, contudo, no esquecimento. António Martinho Baptista, agora director do Centro Nacional de Arte Rupestre, promete reemergir a arte do Tejo. Pelo menos nas páginas de um livro, projecto para os próximos três anos. Do levantamento do Tejo, entre 1971 a 1974, subsidiado pela Gulbenkian, há "muitas fotografias, slides e vários moldes (em látex) das rochas". Este ano, as poucas gravuras que permanecem fora da água, nas pontas da barragem, serão alvo de nova pesquisa. É uma campanha de 15 dias, coordenada por Martinho Baptista, que regressa assim ao sítio onde começou os estudos em arte rupestre. Na obra que acaba de publicar sobre o Côa, António Martinho Baptista traça um paralelo entre este vale e o vale do Tejo. É nas margens dos dois rios que se localizam os "principais complexos de arte rupestre em Portugal". E complementam-se cronologicamente, porque inserem "todo o ciclo artístico da pré-história das sociedades humanas". Mas para "um mais perfeito usufruto destes complexos", sublinha o director do Centro de Arte Rupestre, "seria de toda a conveniência que novamente a sábia decisão política se aliasse ao querer cultural e se permitisse o esvaziamento da pequena barragem de Fratel, que sepulta a quase totalidade" da arte do Tejo. António Martinho Baptista gostava que o seu apelo fosse ouvido, porque em Fratel esconde-se um sítio, com "milhares de gravuras", de valor firmado, que "podiam ter um aproveitamento como as de Foz Côa". Toda a arte do Tejo, explica, "é pós-glaciária, extinguindo-se antes da Idade do Ferro", e insere-se cronologicamente entre os dois principais grupos artísticos - do Paleolítico Superior e da Idade do Ferro - que se identificam no Côa".
 
 

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