Amin Maalouf (Lisboa, Ed. Difel, 2000)
Aquilo que faz que eu seja eu e não outrem,
é o facto de me encontrar na ombreira de dois países, de
duas ou três línguas, de várias tradições
culturais. É isso o que define a minha identidade." Amin Maalouf
escreveu este livro, Identidades Assassinas, para todos aqueles que estão
na sua situação, de "seres fronteiriços", mas também,
ou sobretudo, para os que teimam em manter hábitos de pensamento
e de expressão enraizados, segundo os quais a identidade se reduz
a "uma única pertença, proclamada costico, famílias,
profissão, instituição, meio social, província,
aldeia, bairro, clã, equipa desportiva, grupo de amigos, empresa,
partido, associação, etc. "Jamais encontraremos a mesma combinação
de elementos em duas pessoas diferentes, e é justamente isso que
produz a riqueza de cada um, o seu valor próprio, aquilo que faz
de cada pessoa um ser singular e potencialmente insubstituível",
sublinha. Citando o seu próprio caso (cristão de língua
árabe materna, francês-libanês, nascido no seio da comunidade
greco-católica, descendente de avós turcos, egípcio,
poeta e livre-pensador), realça o facto de a identidade de cada
um de nós ser complexa, única - mas, no entanto, comportamo-nos
como se não fosse o caso e, para facilitar, englobamos as pessoas
mais diversas no mesmo vocábulo e atribuímos-lhes crimes,
actos e opiniões colectivos: "Emitimos friamente juízos sobre
esta ou aquela população, juízos que terminam muitas
vezes em sangue." "As nossas palavras não são inocentes e
contribuem para perpetuar preconceitos que demonstram ser, ao longo da
História, perversos e assassinos. Porque é o nosso olhar
que aprisiona muitas vezes os outros nas suas pertenças mais estreitas
e é também ele que tem o poder de os libertar." Um livro
marcado pelas lutas fratricidas e um convite à meditação
sobre o essencial: Quem sou eu? Quem és tu? Quem somos nós?
António Carvalho, Lisboa,
Diário de Notícias, 7 Fev. 00
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