Diferenças culturais influenciam as formas de raciocínio,
defendem psicólogos sociais
[Fonte: PÚBLICO, Lisboa, 27 de Agosto de 2000]
europeu ou um norte-americano fazem uma pergunta concreta a um
oriental e esperam receber, em troca, uma resposta directa. Mas o
que acontece é exactamente o contrário: o oriental trará à baila mil
outras coisas que, aos olhos do ocidental, nada têm a ver com a pergunta.
E a resposta final poderá ser uma espécie de enigma e não um mero
sim ou não. Ou seja, parece que Oriente e Ocidente não pensam da
mesma forma. E é exactamente isso que afirma um estudo internacional
apresentado no encontro anual da Associação de Psicólogos Americanos.
diferentes maneiras de perceber o mundo e de pensar sobre ele - cada uma
com as suas forças e fraquezas específicas", diz Richard Nisbett, um
psicólogo social da Universidade do Michigan, em Ann Arbor, que liderou
um estudo internacional em que participaram não só investigadores
norte-americanos como chineses, coreanos e japoneses.
Universidade do Michigan, deverão ser publicados em breve na revista
Psychological Review - contrariam o pressuposto de que a forma de
funcionamento da mente humana é universal. "O pensamento oriental tende a
ser mais abrangente e a fazer pouco uso da categorização e da lógica formal.
As mudanças são enfatizadas, as contradições e a necessidade de apreciar
perspectivas múltiplas são reconhecidas. A procura de soluções de
compromisso entre posições opostas é considerada essencial", explica
Nisbett.
Concentra-se sobretudo no objecto e nas categorias nas quais é inserível,
mediante a aplicação de regras determinadas, que incluem a lógica formal,
para explicar e compreender uma situação.
subaquáticas a um grupo de norte-americanos e a um grupo de japoneses,
com o objectivo de verificar quais se concentravam mais num objecto
particular do que no todo, quando os investigadores lhes pediam para relatar
o que tinham visto.
'apareceu uma grande truta a nadar, do lado direito'", diz Nisbett. Quanto aos
japoneses, a primeira frase era normalmente qualquer coisa que indicava
terem prestado atenção primeiro ao cenário, como "havia um
lago..."
do cenário do que os americanos, e 100 por cento mais declarações acerca
das relações entre objectos animados e inanimados, como relatarem que um
peixe grande passou ao lado de uma alga cinzenta", diz Nisbett.
opostas, os norte-americanos tendiam a identificar-se com uma delas,
enquanto os chineses moderavam a sua abordagem, ponderando todos os
aspectos da questão. Uma outra experiência revelou que, quando se pedia a
um grupo de coreanos que fizesse previsões sobre a forma como alguém se
comportaria numa dada situação, as respostas destes davam mais
importância a factores sociais do que a traços da personalidade das pessoas
envolvidas - enquanto os norte-americanos faziam exactamente o contrário.